Federação Paulista de Volleyball

FPV

Problemas de ombro nos esportes de arremesso

29 mar 2007

São Paulo – Quando um paciente jovem que gosta de esporte chega ao consultório do ortopedista reclamando de dores no ombro, uma das primeiras perguntas que se deve fazer é qual modalidade esportiva ele pratica, profissionalmente ou por lazer. Já está provado que os esportes de arremesso são os que mais provocam problemas no ombro. O voleibol, segundo esporte mais praticado no Brasil, tem feito muitas vítimas. Alguns estudos indicam que entre 40% e 50% dos jogadores profissionais de vôlei sofrem de dor no ombro.

E é possível entender a razão desse alto índice de ocorrência de problemas no ombro entre os praticantes de vôlei. Na modalidade, todos os movimentos – saque, ataque, bloqueio, defesa – sobrecarregam o ombro, afetando e ultrapassando, algumas vezes, seu limite fisiológico. O resultado dessa sobrecarga de uso é o desenvolvimento de lesões que acometem de preferência os músculos e tendões. Em geral, estão relacionadas a traumas que ocorrem como conseqüência do gesto esportivo, algumas vezes mal executado, e que agride e compromete os tendões.

A lesão inflamatória mais comum no vôlei é a tendinite do manguito rotador. A grande incidência dessa lesão é acarretada pela própria exigência do esporte, que obriga os atletas a uma carga excessiva de treinos. O uso em excesso acaba machucando os tendões. São lesões inflamatórias, que com tratamentos bem orientados regridem e permitem às pessoas retornarem às suas atividades. Os mais afetados são os músculos e tendões do manguito rotador (tendões profundos do ombro) e do deltóide (músculo superficial que confere o aspecto arredondado ao ombro).

A função do músculo deltóide é elevar o braço e fazer os movimentos rotacionais em harmonia com os músculos do manguito rotador que, por sua vez, atuam também como estabilizadores do ombro. O manguito rotador pode sofrer lesões traumáticas e não-traumáticas. Estas últimas são consideradas lesões degenerativas.

As lesões por trauma são as mais fáceis de serem entendidas. Um trauma violento pode gerar uma luxação, que pode ocorrer durante a prática esportiva ou em acidente de automóvel ou motocicleta. A luxação significa que a articulação do ombro se deslocou, ou seja, o osso sai do lugar. Ela é tão grave quanto uma fratura e, como conseqüência, pode gerar instabilidade (insegurança durante determinados movimentos) no ombro durante a elevação do braço. Isto significa que o ombro pode luxar (deslocar) novamente. Infelizmente, o índice de cura em pacientes menores de 25 anos, cujo braço saiu do lugar pela primeira vez, é muito pequeno. Dos jovens entre 16 e 25 anos que tiveram uma luxação traumática no ombro, cerca de 97%, segundo pesquisas médicas atuais, evoluirão com instabilidade do ombro (poderão deslocar novamente).

Há outro tipo de luxação que também ocorre no ombro, e que é comum, que é a luxação da articulação acromioclavicular. Ela ocorre quando a pessoa cai em cima do ombro e a clavícula se desloca da articulação e para cima. Essa lesão é mais freqüente em esportes de contato, em que a face lateral do ombro fica vulnerável. Goleiros, judocas e lutadores de juijtsu estão mais sujeitos a esse tipo de lesão.

Para evitar os problemas, a dica aos atletas é a seguinte: primeiro, executar o gesto esportivo corretamente (boa técnica); segundo, ter um preparo físico e muscular adequado (equilíbrio entre os grupos musculares); terceiro, não exagerar na carga de exercícios (“over use”). Essa orientação vale para atletas profissionais e não profissionais.

Quando um atleta apresenta problema no ombro, o mais importante é corrigir o defeito encontrado. Se for um desequilíbrio muscular fazer uma reeducação muscular. Se for lesão inflamatória, tratar a lesão com medicamentos, mantendo sempre o fortalecimento muscular. Se for uma lesão grave que não melhore com tratamento conservador, deve-se pensar numa possibilidade cirúrgica. Há dois métodos para a cirurgia: método aberto (clássico) e artroscópico. A grande maioria das lesões não necessita de tratamento cirúrgico e ficam boas com cuidados clínicos e orientação esportiva especializada.

*Eduardo Carrera é doutor em Ortopedia e Traumatologia e Chefe do Grupo de Ombro do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina UNIFESP/EPM e especialista em Medicina Esportiva.

Fonte: Ponto da Notícia

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